Maratona Literária Pretatona

11:24:00

Com o propósito de incentivar a leitura de autores e autoras negros, o ig literário Clã das Pretas está promovendo uma maratona de livros e filme super especial: a Pretatona. São cinco categorias originais e dois desafios extras. A maratona deve durar de 23/06/2020 a 30/07/2020 e você pode encontrar algumas sugestões de obras no post que explica direitinho essa iniciativa lá no Instagram Clã das Pretas

Faz tempo que participei de algum projeto nesse estilo, mas fiquei animada com a ideia e resolvi tentar ao menos a parte literária. Então, hoje compartilho as minhas escolhas de desafios e leituras.



1. Ficção especulativa: Sons da Fala, de Octavia E. Butler (conto gratuito)

Trata-se de excerto de Bloodchild and Other Stories. Butler concebeu este conto, que ganhou o Prêmio Hugo em 1984, depois de testemunhar uma briga sangrenta e sem sentido enquanto estava no ônibus. Na sua coletânea de contos Bloodchild and Other Stories, Butler disse que testemunhar a briga a levou a pensar "se algum dia a espécie humana ia crescer o bastante para aprender a se comunicar sem de algum modo usar os punhos". E então lhe ocorreu a primeira frase do conto.

2. Nacional: Úrsula, de Maria Firmina dos Reis

Obra inaugural da literatura afro-brasileira, Úrsula é considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil. Maria Firmina dos Reis, mulher negra nascida no Maranhão, constrói uma narrativa ultrarromântica para falar das mazelas sociais decorrentes da escravidão. Tancredo e Úrsula são jovens, puros e altruístas. Com a vida marcada por perdas e decepções familiares, eles se apaixonam tão logo o destino os aproxima, mas se deparam com um empecilho para concretizar seu amor. Combinando esse enredo ultrarromântico com uma abordagem crítica à escravidão, Maria Firmina dos Reis compõe Úrsula, considerado o primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher, em 1859. Por dar voz e agência a personagens escravizados, é vista como a obra inaugural da literatura afro-brasileira. Retrata homens autoritários e cruéis, mostrando atos inimagináveis de mando patriarcal e senhorial em um sistema sem espaço para a autorregulação.


3. YA: O Ódio que Você Semeia, de Angie Thomas

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.


4. Não ficção: Na Minha Pele, de Lázaro Ramos

Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação. Ainda que não seja uma biografia, em Na minha pele Lázaro compartilha episódios íntimos de sua vida e também suas dúvidas, descobertas e conquistas. Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismos, Lázaro nos fala da importância do diálogo. Não se pode abraçar a diferença pela diferença, mas lutar pela sua aceitação num mundo ainda tão cheio de preconceitos.
Um livro sincero e revelador, que propõe uma mudança de conduta e nos convoca a ser mais vigilantes e atentos ao outro.


5. Literaturas africanas: O pomar das almas perdidas, de Nadifa Mohamed


Aos 9 anos, Deqo, que só conhecia a existência no campo de refugiados onde nascera, fará uma apresentação de dança - e por ela receberá um desejado par de sapatos. Mas ela erra a coreografia e recebe punição. Das arquibancadas, a viúva Kawsar, em seu eterno luto pela morte da filha adolescente, vê a agressão e decide intervir. É presa por Filsan, uma jovem soldado ambiciosa que em breve aprenderá uma lição dura sobre si mesma e o mundo dos homens. Os eventos que se desenrolam do momento da prisão de Kawsar até a volta de Filsan à delegacia são dramáticos e determinantes do que virá a seguir.
O livro passa então a acompanhar a vida de cada uma das mulheres. Deqo se perde pelas ruas da cidade, perambulando pelas bancas do mercado até encontrar refúgio na casa de prostitutas. Machucada, impossibilitada de se mover, Kawsar volta para seu bangalô e passa a viver com a ajuda de uma jovem. Filsan retorna ao quartel e ao seu trabalho de patrulha. Nesse momento, a narrativa cresce e ganha uma qualidade poética admirável, para a qual muito contribui a musicalidade das palavras somalis sussurradas aqui e ali.
Aos poucos, a revolução se dissemina e o conflito armado se instala de vez, obrigando a população a deixar sua casa. Em meio aos escombros, aos cadáveres, à areia do deserto e às suas próprias perdas, Deqo, Filsan e Kawsar voltam a se encontrar para viver o seu destino final, num trabalho precioso de construção de enredo que ajuda a explicar por que a revista Granta elegeu Nadifa Mohamed uma das melhores jovens escritoras britânicas de 2013.


Boas leituras!

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