Menina Má, de William March

21:26:00


"Mais tarde naquele verão, quando a sra. Penmark olhava para trás e se recordava, tomada por um desespero tão grande que sabia que nunca encontraria uma saída, sem ver solução para as circunstâncias que a atormentavam, lhe parecia que o 7 de junho, dia do piquenique da Escola Primária Fern, fora o dia em que sentiu felicidade pela última vez, pois, desde então, nunca mais soubera o que era alegria ou paz." (Pág. 21)

Rhoda Penmark é uma garotinha de oito anos amada por todos. Respeitosa e adorável, a menina é sempre elogiada por aqueles que a cercam e considerada um modelo que todas as crianças deveriam seguir. Porém, por trás de toda essa aura angelical existe uma forte tendência à psicopatia que aos poucos vai sendo revelada. 

Durante um piquenique da Escola Primária Fern, onde Rhoda estudava, aconteceu uma tragédia. Claude Daigle, colega da garota e vencedor da medalha de melhor aperfeiçoamento de caligrafia durante o ano letivo (que ela tanto queria), foi encontrado morto no meio das estacas do cais. Todos ficaram abalados, com exceção de Rhoda. Percebendo uma indiferença perturbadora da filha, Christine começa a desconfiar de que algo está errado. Enfrentando um misto de sentimentos, a Sra. Penmark tenta entender o porquê de a menina ser assim. 

"Será a maldade uma espécie de semente que carregamos dentro de nós, capaz de brotar na mais adorável das crianças?"

Menina Má retrata um tema que não costuma ser muito discutido, mesmo nos dias atuais: o desenvolvimento da psicopatia em crianças. Quando escutamos falar sobre psicopatas, o assunto se restringe a adultos, porém, como vemos nesse trabalho do William March, a psicose pode ter início na infância. Através de uma personagem extremamente indiferente e que sabe como utilizar as pessoas de acordo com seus interesses, o autor consegue deixar o leitor tenso e boquiaberto a cada página. 

Rhoda, com suas trancinhas e sua covinha na bochecha de um lado só, conquista todos ao seu redor. Respeitando os mais velhos, se dedicando às suas tarefas e agindo com muita esperteza, a garota sempre surpreende os adultos devido à sua tamanha sabedoria. Acontece que, mesmo com esse delicado, meigo e angelical jeito de ser, é possível perceber traços de uma intensa frieza, que acaba sendo considerada parte da sua linda personalidade. A maneira como as pessoas tratam Rhoda, parecendo ignorar os vestígios de maldade que emanam dela, é incômodo e deixa o leitor abismado. 

Além dessa temática principal, o livro traz alguns outros assuntos pouco comentados na comunidade, levando em consideração a época em que foi publicado, na década de 1950, como incesto, homossexualidade e estupro. Mesmo não sendo mencionados com tanta frequência na história, esses temas são abordados e configuram elementos que contribuem para a tensão da trama. Em certos momentos é também mencionada a psicanálise de Freud, já que o livro se passa na fase de ouro desse estudo e uma das personagens, a Sra. Breedlove, chegou a se consultar com esse psicólogo. 

Quando a Sra. Penmark começa a perceber que o comportamento de Rhoda é fora do comum e acaba fazendo algumas descobertas, ela dá início a uma série de pesquisas sobre a questão da psicopatia. Durante esse período de buscas são citados casos de assassinos em série e mulheres psicopatas, alguns bem perturbadores, um deles recebendo maior destaque. Com a desculpa de que está escrevendo um livro sobre o assunto, Christine comenta sobre sua própria história com outras pessoas, de modo que a trama vai sendo discutida entre seus próprios personagens.

Gostei bastante de todo o desenvolvimento do livro. O modo como o enredo foi criado, explorando os traços de violência e maldade presentes na garota de oito anos aparentemente inofensiva e a maneira como isso afeta as pessoas ao seu redor, foi muito bom. O autor conseguiu fazer isso sempre surpreendendo o leitor, deixando-o chocado com as revelações que vão sendo feitas. Mesmo sabendo que tudo aquilo pode de fato acontecer, ainda existe um sentimento de incredulidade por parte daquele que lê. Há um suspense psicológico muito bacana na obra. 

Algo que me incomodou foi o final. A conclusão dada para a história mantém o clima perturbador de todo o livro, mas eu gostaria que o William March tivesse sido mais criativo, não sei. Apesar de não conseguir imaginar um outro desfecho possível, não me senti inteiramente satisfeita com esse fim. No geral, Menina Má é um livro muito bom. Se você se interessa pela temática de assassinos infantis e do surgimento da psicopatia durante a infância, fica aqui a minha recomendação.


"Rhoda ficou tão surpresa por ter sido interpelada que saiu da sua eterna calma, deslizou nos patins de lá para cá e disse: 'Por que deveria me importar? Foi Claude Daigle que se afogou, não eu'." (Pág. 74)

Sobre o trabalho feito pela DarkSide Books não é preciso falar muito. Além de capa e verso maravilhosos, o livro contém páginas com fundo preto e bolinhas brancas, desenhos da silhueta de uma garotinha, enfim. Tudo muito caprichado. A edição contém uma introdução muito boa feita pela Elaine Showalter em 1997, trazendo várias informações sobre a vida do William March (o que já me deixou um tanto tensa, confesso). Contudo, essa introdução possui alguns spoilers da obra, então, se você tem problemas com isso, deixe a leitura dessa parte para o final.


Minha Estante #61
Título: Menina Má
Autor (a): William March
Páginas: 272
Editora: DarkSide Books
Nota: 4/5
Onde comprar: Amazon | Americanas | FNAC | Submarino 
Livro cedido em parceria com a editora


Vocês já leram Menina Má ou assistiram a sua adaptação cinematográfica? O que acharam da história? Me contem nos comentários!
Beijos e até o próximo post!

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4 comentários

  1. Amei a resenha e fiquei muito curiosa para ler esse livro!

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  2. Menina, que livro é esse? hahahaha. Eu fiquei louca por ele (assim como fico louca por todos os livros da Darkside, eles são divinos) mesmo sem saber do que se tratava, e depois da sua resenha eu quase virei do avesso aqui. Pre-ci-so! Adoro histórias com essa temática, me interesso muito. Com certeza irei procurar esse livro.
    Adorei a resenha!

    Allie | allieprovier.blogspot.com

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  3. Olá, Gabi.
    Fiquei feliz lendo sua resenha porque ganhei um vale presente de aniversário no meu serviço e um dos livros que comprei foi esse. mas foi um tiro no escuro porque ainda não tinha lido nenhuma resenha dele. Mas pelo o que você falou, vou gostar. E a Dark Side sempre caprichando né?

    Blog Prefácio

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  4. Adorei saber de mais detalhes! Só uma coisa: Freud era psicanalista e não psicólogo. ;)

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