A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de Svetlana Aleksiévitch

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A Segunda Guerra Mundial consistiu em um acontecimento de grande importância para a história da humanidade. Evidência disso é o fato de que deu origem a diversas obras literárias, algumas de ficção, outras não. No entanto, apesar de os títulos variarem quanto ao gênero, todos apresentam uma única perspectiva: a masculina, engajada em narrar e descrever as batalhas e os aspectos políticos desse cenário. Cansada de encontrar somente esse ponto de vista acerca da guerra, Svetlana Aleksiévitch decidiu reunir depoimentos de mulheres que participaram do conflito e não esqueceram o lado pessoal, o lado sensível presente durante esse momento histórico.

A guerra não tem rosto de mulher é um compilado de relatos de diversas mulheres da antiga União Soviética que participaram da Segunda Guerra Mundial, nas mais distintas áreas de atuação, desde o setor de comunicações até o de francoatiradoras. Tratar dos fatores políticos desse período é inevitável, afinal, eles foram os responsáveis pelo ocorrido. Entretanto, as falas dessas personalidades revelam pensamentos e sentimentos que não nos remetem à guerra, devido aos escritos típicos sobre esse acontecimento, mostrando que, mesmo nesse contexto, ainda existe um lado humano nos combatentes. 

Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015, dá início ao livro compartilhando as dificuldades tanto no processo de escrita quanto no de publicação. Ela afirma que inicialmente foi complicado encontrar pessoas dispostas a contribuir para o seu trabalho, o que só foi modificado com o fim da URSS na reta final da Guerra Fria, consequência do apoio e da submissão populares ao regime socialista da época. Porém houve um outro obstáculo nessa jornada: o questionamento masculino acerca da sua necessidade de contar esse fato histórico através do olhar feminino. A jornalista chegou a ser contestada da seguinte maneira: não existem homens suficientes para descrever a História? 

Assim, é possível compreender as razões pelas quais a autora decidiu elaborar essa obra. Durante muito tempo a participação feminina nos mais diversos setores sociais foi esquecida e somente nos dias atuais surge o engajamento na busca por essas mulheres que fizeram parte de importantes fatos históricos. Apesar de o machismo no cenário de guerra não ser exatamente o foco do livro, ele ajuda a compor a narrativa das mulheres que decidiram compartilhar suas histórias, assim como o comportamento machista na atualidade, exemplificado por alguns maridos dessas personagens. 

Sem dúvida, o principal elemento da obra é a noção de que ainda há sensibilidade, emoções e sentimentos durante conflitos bélicos. Muitas mulheres relatam a saudade de usar vestimentas femininas e de ter cabelos compridos, hábitos que possuíam antes da guerra, o medo que desenvolveram ao longo do processo e, sobretudo, a convivência diária com a morte. Nesse livro, o leitor encontra uma perspectiva totalmente nova, quando comparada ao relatos exclusivamente políticos propagados ao longo dos anos. 

Outro aspecto interessante é que as mulheres falam muito sobre o lado emocional, a pedido mesmo da autora, que buscava retratar uma outra perspectiva da Segunda Guerra Mundial, mas também tratam de questões políticas. Ou seja, apesar de destacarem o caráter sensível da situação, as mulheres não consolidam a ideia de que o sexo feminino está relacionado somente a esse viés, afinal, elas combateram e estavam plenamente cientes do contexto histórico, político e social em que se encontravam. Esse posicionamento é muito bacana porque fornece um panorama geral do cenário soviético e do seu marcante patriotismo, evidenciado diversas vezes e presente em falas simples como "camarada Lênin" e "camarada Stálin". 

A Guerra Não Tem Rosto de Mulher consegue, através de relatos emocionantes, explorar a condição da mulher na sociedade, os impactos do regime socialista na URSS, as influências ideológicas durante conflitos políticos e, consequentemente, bélicos e a natureza humana durante a guerra. Svetlana Aleksiévtich realiza um ótimo trabalho ao dar voz a essas mulheres, permitindo a elas compartilhar suas memórias, e apresentar uma nova perspectiva acerca da História. 

Minha Estante #110
Título: A Guerra Não Tem Rosto de Mulher
Autor (a): Svetlana Aleksiévitch
Páginas: 392
Editora: Companhia das letras
Nota: 5/5
Onde comprar: Amazon 


Já leram A Guerra Não Tem Rosto de Mulher ou outro livro da Svetlana? Me contem nos comentários o que acharam!
Beijos e até o próximo post!

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1 comentários

  1. I think this book should be awesome & i want to read it dear, thanks for sharig..
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